Todos temos nossas ambiguidades, todos somos multifacetados
e agimos com cada pessoa ou grupo de forma diferente do que agimos com outros,
pois a interação que se tem com cada um é diversa, depende de como o outro é,
depende de como o outro age em relação à nós.
Isso não tem nada a ver com falsidade ou ter personalidade
múltipla. Isso é absolutamente normal, desde que haja uma certa coerência entre
todas as facetas apresentadas. Desde que haja um núcleo do qual todas as
facetas emanam. Esse núcleo pode ser, por exemplo, um ideal de liberdade, de
dar a cada um o direito de ser quem é, ainda que divirja de como eu sou.
A falsidade ocorre quando se age de uma forma com uma mesma pessoa
em público e em particular, sendo, por exemplo, mais afetivo, amistoso, efusivo
até, em público e, no entanto, em particular, demonstrar frieza, indiferença,
que chega ao desrespeito.
Quem tem amigos verdadeiros sabe distinguir quando lhe
tratam com falsidade; quem tem quem lhe trate bem, sabe discernir quando lhe
tratam mal. Qual o sentido de se manter uma pseudo-amizade falsa por anos e
anos a fio? Se há necessidade de convívio, que haja cordialidade, não
falsidade. Se não há necessidade de convívio, que se assuma que não há
afinidade e que se abra mão do apego de manter a pessoa como supostamente amiga
aos olhos dos outros quando na verdade não são amigas, nunca foram e jamais
serão.
Desapegar-se da falsa amizade nem sempre é fácil, por se
precisar ter vínculos com outras pessoas, por ter algum interesse além da troca
afetiva-intelectual, por se ter hoje mais ainda o hábito de colecionar pessoas
em redes sociais, como se colecionava álbum de figurinhas antigamente.
Não gosto de colecionar pessoas. Gosto de possibilidades de
interações reais, ainda que falhas, mas com falhas verdadeiras.
Não tenho vontade de estar com pessoas com quem eu tenha
restrições ao que posso ou quero dizer sobre mim. Ainda que se tenha sempre
limites quanto ao que dizer, pois nem todas as verdades são digeríveis e nem
todos os pensamentos devem ser ditos, falsidade é muito diferente de ter
limites saudáveis ao convívio. A falsidade é a sombra da boa convivência.
A falsa amizade propaga que você é uma coisa que você não é.
A falsa amizade faz fofoca e intriga, a falsa amizade te faz precisar ser falso
também, o que é péssimo para quem não é assim por natureza; a falsa amizade até
te traz algumas vantagens, uma vez ou outra, mas não compensa. Definitivamente,
não. Não temos tempo a perder com interações falsas.
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